Cuidar de si é egoismo? O que é? pt4 Bacellart Psicólogo

Cuidar de si é egoismo?

4a parte e considerações finais do artigo científico ‘Decisão Estruturada em si-mesmo’:

 

4. O indivíduo é movimento para o cuidar-de-si:

 O movimento de nosso sentir/sentido/pensar/fazer, está voltado ao horizonte do ‘cuidar’, que é uma ontologia fundamental do indivíduo. O cuidar-de-si está imbricado no cuidado com todos e com tudo, e é apenas uma constatação, sem juízo de valor negativo ou positivo e nenhuma relação com um exacerbado narcisismo; inclusive o cuidado-de-si pode se mostrar na filantropia, sem em nada relacionar-se com ‘bondade’. Logo, cuidar de si é egoismo?

O indivíduo é sempre cuidando/usando e libertando/descartando – e também sendo cuidado/usado e libertado/descartado; ou seja, se relacionando, na troca, no precisar e na atenção.

A citação abaixo, de Ser e Tempo, é referente a proposta sobre a ‘compreensão’:

“…A possibilidade essencial da pre-sença* (*indivíduo) diz respeito aos modos caracterizados de ocupação com o mundo…

de solicitude com os outros e, nisso tudo, à possibilidade de ser para si mesma/o, em função de si mesma/o” (Heidegger, M. 1993 p. 199).

Para além da análise da compreensão, as duas últimas frases podem denotar um egocentrismo; contudo, em nossa existência é preciso que sejamos prioritários para melhor percebermos o que precisamos e cuidar por nós, a ontologia do ‘cuidado’. Aqui é entendido que a prioridade no cuidado (benefício) é para si mesmo, em função de si mesmo seja para o que for; o sacrifício de um indivíduo voluntário é feito pelo que há de mais relevante para ele, sua compaixão e se mostra em seu prazer por ajudar. Priorizar cuidar dos outros, exemplificando, é cuidar do que mais lhe importa, si mesmo.

 

Considerações finais:

O estudo demonstrou que o indivíduo, dentro de suas possibilidades, é um acontecente alheio à sua prévia escolha. Esses jeitos de ser são inegociáveis e por eles não decidimos. Há um ‘chamamento’ de nossas ontologias Heideggerianas, em uma predisposição ao ‘para quê’. Por exemplo, sermos relacionalidade de sentido com todos e tudo; sermos cuidando sempre; sermos temporalidade; bem como na angústia de ter de ser, diante da ‘ausência de sentidos’ e a necessidade de tê-los; somos no sentido, sem ele não há existência, e, assim podemos dar sentido em nosso ser-para-a-morte repercutindo em nosso horizonte existencial.

Para a psicanalise Winnicottiana, há tendências inatas para o amadurecimento, para a ‘conquista de uma realidade’, espacialidade e temporalidade. E também somos no ‘inconsciente’, entendido como ‘o não denominado’, e que muitas vezes cuida de nós ‘saltando sobre’ (lembrando um termo Heideggeriano); nos controlando, levando-nos a sentir, pensar e fazer para além de opções de nosso ‘afetivo compreender’ e de apropriação de algo amadurecido, seja de ‘insalubres’ a ‘saudáveis’ ou, como citado acima, ‘dar murro em ponta de faca’. A própria palavra, ‘tendência’, já mostra o quão conduzido foi nosso caminho no existir: somos tendência para a saúde, mas até certo ponto, por isso damos “murro em ponta de faca” contra o nosso querer; e isso não é mera questão de um indivíduo criativo não pensar em outras opções, vai muito além de seu domínio, caso contrário ele sequer algum dia teria algum tipo de perturbação.

A corporeidade intercala a formação corpórea, biotipo, genética, esteticidade, etc. e há necessidades não negociáveis, como a alimentação, água e o dormir. É o indivíduo ‘corporificado’ que ganhou materialidade. Este corpo, mostra determinações (mesmo que passíveis de alteração como uma cirurgia), que precisamos respeitar e desvelar até onde é possível alguma mudança.

 

     Concretude, proposta mais autoral aqui:

A concrretude se amplia em nosso existir, a pele não é o limite físico do indivíduo, ela se prolonga interligando aos outros entes, se apresenta na relacionalidade de sentido com nossa psique, com os outros, com nosso corpo, ar, casa, natureza.

A medicina e as teorias comportamentais também trazem à luz nossos instintos, hábitos e condicionamentos por cuidados favoráveis; que roteirizam nossa rotina, ora abrindo ora limitando, sendo assim elástica para nossas opções.

Em nossa historicidade, desde os primórdios, temos necessidades de orientação (do estilo da moral) e de sentido de existência; ocorre em qualquer aldeia remota sem orientação forasteira.

 Aparentemente, no caminhar de nossa existência, nós fomos ‘orientados’ sem coparticipação, sem convite; e o minúsculo poder que ainda temos, como a linguagem elaborada e complexa e conseguir emiti-la, é um dos fundamentos em nossa existência e faz uma forte diferença para clarear nossos afetos, pensamentos ou ações. Um indivíduo, mesmo perturbado, pode realizar algo de grande importância para os outros, como as escolhas espetaculares feitas por Van Gogh a ansiedade no desenvolvimento de seu estilo, sua ânsia pela inovação e suas marcantes cores e pinceladas.

Entende-se, então, que um indivíduo maduro (ou não), em aberta e íntima ‘afetiva compreensão’ consigo (ou não), equilibrado bioquimicamente (ou não) e em concretudes favoráveis (ou não), terá potencialidades para a escolha frágil, para a opção ou para a decisão estruturada.

 

Artigos Relacionados:

Introdução Decisão em si-mesmo 

1) Somos nossas escolhas?

2) Como somos?

3) O que é Moral? 

 

Bacellart Psicólogo Experiência USP – Presencial & Online – Brasileiro.  

Abordagem – dependendo do terapeutizando (paciente): amadurecimento (Winnicott) e/ou Teoria Cognitiva Comportamental e/ou Fenomenologia Existencial.  

Se necessário, orientação em terapia breve focal.  

Especializado em depressão, ansiedade/pânico. Desenvolvimento Profissional, Pessoal e Amoroso.  

Aluno convidado ouvinte, doutorado USP (Gilberto Safra) e PUC (Zeljko Loparic), de 1997 a 2003.  

Consultório Av. Paulista 1701, Bela Vista, Metrô Consolação e Trianon-MASP, linha verde. São Paulo SP, Brasil.  

Possibilidade de entrevista para TV, rádio, revista e jornal.  

  

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Cuidar de si é egoismo?

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